Problemas seríssimos da produção plástica de RES, expostos de maneira clara:
Dia 23 de outubro de 2018
RUBENS ESPÍRITO SANTO
Guerra entre o transcendente e o imanente no meu desenho recente (pelo menos), aspecto muito importante levantado pelo Felipe na aula de hoje. Na verdade não é bem uma guerra mas uma tentativa de unir coisas díspares, não é nem propriamente tão ambicioso, não se trata bem de unir, mas colocar para conversar, colocar juntos para conviver coisas que parecem adversas, absolutamente adversas. Deste contato vamos ver o que surge. Deste contato ainda que seja num descontato. Hoje percebi claramente que a Adelaide não tem nada a ver com uma questão de gênero ( sexualidade ), a Adelaide é muito mais um lugar de outras possibilidades de cognição ou de unir coisas díspares, por isto ela escolheu o Angelus Novus. Tem a ver com a palavra grega “temenos“ τέμενος, εος-ους (τὸ). A Adelaide é este espaço da “ temenos“ para o shiva. Tem muito mais a ver com isto que com gênero. Meu desenho também é um espaço de trégua entre o imanente e o transcende, talvez este seja o espaço do meu desenho, ou o espaço aberto por ele, ou uma definição contemporânea possível para a “consagração“. Por isto também toca tanto o corpo interno das pessoas envolvidas nele. Obviamente me aproximo muito de Shakespeare com esta produção recente de desenhos: “There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy.”
Começa a aparecer no meu desenho as grandes questões humanas, ou seja ele realmente inicia sua saga de despersonalização, de impessoalização. Neste desenho me sinto realmente próximo de Paul Klee, um artista de quem nunca fui próximo, o desenho inicia sua própria trajetória de pares à minha revelia. Gostaria de realmente me concentrar em esclarecer estas duas palavras. Estes dois conceitos. Penso que eles nomeiam coisas fundamentais neste momento de minha vida, além de amar propriamente estas palavras ( imanente e transcendente ). O choque, a colisão, a união, o desenlace, a proximidade, a consagração entre elas rasgando uma nova tecnologia de relações para nosso tempo, abrindo um furo na anorexia epistemológica maniqueísta. Quero cavar um poço na aridez das fronteiras migratórias. Ramificações subterrâneas de conteúdos proibidos. Sinto-me em pleno acordo com o desacordo. Em desajuste com a rosca perfeita. Em plena queda indesviável, socorrido pelo anjo delicado de Klee.