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O que significa a palavra contingente, Dentro da filosofia do aleijado, de RES?
Dia 25 de fevereiro de 2020
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No livro de Acemoglu e Robinson, eles usam este termo muitas vezes, para quando esgotam os recursos para explicar porque um país é rico e outro é pobre. Me parece que esta palavra entra num lugar de esgotamento cognitivo ou de um lugar onde eles claramente não querem entrar. Li 500 páginas do livro, faltam 100, eles se repetem muito, a escrita claramente é ruim sob o ponto de vista literário — é livro de informação, isto é de comunicar algo muito básico, quase literal — não é literatura, nem imagino que eles queriam isto. Como não imagino que artistas de hoje em dia queiram fazer arte mesmo. Acemoglu está para literatura, assim como os artistas hoje estão para arte.
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Introdução de algo. Introdução ao termo contingente, definição de dicionário: “que pode ou não ocorrer; incerto, duvidoso.” Segunda acepção:
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“que ocorre por acaso ou por acidente; acidental, casual.”
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Terceira acepção: Incapacidade de compreensão — ausência de recursos para se entender algo
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Antônimo: essencial
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Quando Acemoglu usa a expressão contingente, no seu lugar ele evita uma série de inquietações, dúvidas, especulações, interrogativas, enfim sai pela tangente, eu imagino que “filosofia” seria esta parte do livro que Acemoglu abre mão, ou seja o que ele chama de contingente é exatamente a parte que interessaria a um pensador de verdade.
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Portanto tentando capturar um outro sentido para a palavra contingente: contingente seria mesmo aquilo que precisa ser nomeado, aquilo que me escapa, aquilo que merece atenção microscópica, minuciosa.
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Contingentes são as causas não evidentes, difíceis de explicar, cabeludas, não do senso comum — seria algo como uma vida não ordinária, seria o extraordinário de algo.
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Contingente no dicionário corriqueiro é o oposto de essencial. (de necessário). Para mim, contingente é o não essencial que desequilibra, é o que mesmo sendo difícil de nomear ou tocar, faz conta, ou melhor mexe na conta, portanto não é um “inessencial” que não conta, mas um inessencial essencial, portanto algo exequível de pensar.
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Contingere: tocar, chegar a tocar em alguém ou alguma coisa.
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Tingere: mergulhar
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Contingere: (tango) —tocar
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Em grego(ενδεχόμενη) termo do aristotelismo — traduzido pelos romanos —com o significado de eventual, provável, possível.
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O que eu quero com tudo isto, dizer que há algo de essencial no que não parece importar, ou seja a qualidades no que é inessencial.
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O que chamamos de acidental é alguma coisa, o inessencial é alguma coisa, o fortuito é alguma coisa, talvez queira com isto dizer que a filosofia do aleijado seja uma filosofia de tudo aquilo que escapa do bom senso, ou seja, do essencial. Esbarra no inútil. Contingente assim precisa ser alguma coisa a se dar atenção. É aquilo microscópico que Warburg falava, é tudo que Agamben tenta definir como IMPOTENTE.
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Mas porque (onde) tudo isto me interessa, porque acho que a arte que me importa é esta que “chamaríamos” contingente, isto é não essencial, o que não cabe no essencial, inessencial que faz a diferença.
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No caso de Acemoglu — ele escamoteia qualquer complexidade no seu livro — não tem nenhuma citação filosófica, ele pretende que seja um livro fácil, de fácil acesso, para muitos, público, popular, evita complexidades filosóficas. Evita por exemplo contradição e termos filosóficos ou éticos (enfim evita trazer a problemática por exemplo de Hegel ou Nietzsche, para suas reflexões, mas onde poderia entrar Nietzsche no seu livro? Por exemplo eu traduziria contingente no seu livro por “excedente de forças” ou ainda por “dispêndio” de Bataille.
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Penso que diante de nossas limitações começa algo filosófico em nós. Precisamos caminhar para o precipício de nós mesmos e de situações se quisermos sermos seres filosóficos. Sem risco não há filosofia. Sem enfrentamento de limitações não há arte que seja para além do necessário, isto é inessencial, sem arte inessencial não há arte, para haver arte inessencial é preciso haver confronto no limite. É preciso um lugar onde não dá pé, deste lugar em diante começa a arte, começa a filosofia, começa o calor. Sem calor não há vida. Sem calor não há literatura. É preciso pousar o avião e se sujar, não adianta ficar planando a distância. Filosofia se faz em solo sujo.
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Contingente é um termo vago, que escapa, foge da pressão, sem fôlego, vou definir um subtítulo da filosofia do aleijado como CONTRAcontingente. Contingente existe para nomear uma falseação do verdadeiro problema, é antifilosófico, quero termos que enfrentem o problema — portanto vou nomear o termo: contracontingente, ou seja, vou participar ainda que não haja espaço, vou participar ainda que seja louco, vou participar ainda que seja cego vou arrumar um modo de ver, ainda que seja pobre vou arrumar um modo de me divertir nesta festa de ricos. Subalterno ou não, vou participar, não vou me imiscuir desta geringonça que é o Brasil. A tudo isto vou chamar contracontingente.