MOVIMENTOS
INVOLUNTÁRIOS
RUBENS ESPÍRITO SANTO
22 de maio de 2018
Sobre o meu desenho
Sobre a minha vida
Uma criatura atravessa a ponte
Meu pé no sapato do meu pai
Meu pai no meu pé de ouvido
A ponte atravessa a criatura
Um tanque de combustível
Um tanque de tudo que não sou
A faísca do choque impossível
O trauma inquieto sobrevive
Cavando fendas no interior de minhas veias, até que eu possa
Ver o abismo dos olhos alheios
Despistando caçadores fanáticos
Na selva de minha própria tirania
Entre linhas escrevo
Entre linhas penso
Nenhum poema se escreve aqui
Entre mim e tu
Entre tu e tu mesmo
Assola a verdade, inverter-me
Só assim verei
Só assim verei-me
Viramundo
Comecei Raimundo
Estou Raimundo
Raimundo saindo de mim
Aqui mesmo vivo meu sertão
Aqui mesmo me viro ao avesso
De fio a pavio embestado
No bucho do animal tempo
Arranco meu destino
Com as mãos em sangue quente
Prossigo, cometi o crime
De ferir o código vigente
Proferir o nome da coisa
Perdoa-se tudo, menos proferir
O nome, releva-se tudo, menos
Proferir o nome da besta
Gravada nas entranhas da trama
Ancestral em cada sujeito, assim
Que ele nasce, invadir esse nome
Profanar esta lei
Ferir um estatuto
Invadir uma senha
Destino, afinco, missão
A que sou levado assim que decido
Seguir meu caminho: o sei que o estou seguindo quando não consigo me ver mais.